Este ano, a convocatória da Competição Latino-Americana rompeu todos os recordes anteriores da Mostra, trazendo 527 obras de 15 países latino-americanos para o processo de seleção da competição, iniciado em janeiro – antes, portanto, do desencadeamento da pandemia que vem assolando o mundo em 2020. O fenômeno afetou todo o panorama dos festivais de cinema no Brasil e no mundo, diminuindo as janelas de exibição das produções cinematográficas mais recentes e, com isso, aumentando ainda mais a responsabilidade do comitê e da Mostra Ecofalante na composição da competição.

Não por acaso, a seleção acabou revelando fortes vozes de ativismo ambiental, social e político, em sintonia com um momento histórico delicado, marcado por grandes embates ideológicos, que muitas vezes ofuscam as consequências sofridas pelas diversas comunidades e ecossistemas latino-americanos. O Brasil marca forte presença na competição como um todo, com longas e curtas-metragens que cobrem o país de ponta a ponta, do Ceará ao Mato Grosso, da Amazônia ao Rio de Janeiro, tratando de variados temas como o direito à moradia nas áreas urbanas, o front de batalha nas zonas florestais brasileiras e as mitologias indígenas, entre outros. Filmes históricos e investigativos também integram a seleção, trazendo importantes relatos sobre eventos muitas vezes poucos explorados e expondo as contradições dos discursos oficiais quando confrontados com a realidade dos mais fracos.

Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia e Peru completam a competição com a sua potência tradicional, expondo feridas abertas e o inconformismo diante das injustiças que marcam o cenário da América Latina. A precariedade dos direitos trabalhistas, as ironias da forte presença da religião no continente, o descaso com os recursos naturais e a profunda ancestralidade dos povos originários são alguns dos temas que emergem dos países vizinhos, compondo um horizonte vibrante de uma região em permanente ebulição.